sexta-feira, 28 de abril de 2017



Paradas, obras da ferrovia Transnordestina são retrato do descaso

Ferrovia que prometia mudar a vida de pessoas em três estados segue sem prazo de conclusão, após mais de dez anos de obras.

Obra da ferrovia Transnordestina se arrasta há dez anos
Obra da ferrovia Transnordestina se arrasta há dez anos
O descaso se encontra no município de Salgueiro, no sertão de Pernambuco. É ali, não muito longe do centro da cidade, que duas obras bilionárias, anunciadas como promessas de um desenvolvimento que ainda não veio, se entrelaçam. Os trilhos da ferrovia Transnordestina passam por sobre o canal da transposição do Rio São Francisco. Uma obra para integrar e fortalecer a economia do Nordeste. A outra, para vencer a seca. As duas orçadas em mais de R$ 20 bilhões. Ambas paradas.
No caso da Transnordestina, o problema é mais grave. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), o contrato atual da obra previa que a ferrovia deveria ter sido concluída no fim de janeiro. Em uma década, no entanto, apenas 600 quilômetros de trilhos foram colocados de 1.753 da extensão total.
(A partir deste sábado (18), o G1 publica uma série de cinco reportagens sobre a ferrovia Transnordestina. As obras foram iniciadas em 2006 e estão paradas.)
Em Salgueiro, obras da Transnordestina e os canais da transposição do Rio São Francisco se encontram (Foto: Eduardo Ricken/TV Globo) Em Salgueiro, obras da Transnordestina e os canais da transposição do Rio São Francisco se encontram (Foto: Eduardo Ricken/TV Globo)
Em Salgueiro, obras da Transnordestina e os canais da transposição do Rio São Francisco se encontram (Foto: Eduardo Ricken/TV Globo)
No restante do trajeto, que atravessa 35 municípios em Pernambuco, 28 no Ceará e 18 no Piauí, não há nenhum sinal de trabalho em andamento. Foi o que atestou a reportagem do G1, após um giro de mais de 3 mil quilômetros pelos três estados que durou 10 dias.
O ponto de partida é a cidade de Salgueiro, cuja posição estratégica, equidistante de várias capitais do Nordeste, a transformou em epicentro da Transnordestina. É por isso que o município abriga o canteiro industrial da obra. O terreno de 46 hectares tem fábrica de dormentes, pedreira, central de britagem, estaleiro de solda e oficina de manutenção. Tudo parado. Um cenário que persiste pelo menos desde abril do último ano.
Uma imagem aérea do canteiro industrial dá a dimensão do abandono e revela o trecho exato em que Transnordestina e transposição se cruzam. De um lado, correm os trilhos com cinco locomotivas estacionadas. Um espantalho faz as vezes de segurança no posto avançado de vigilância.
Boneco faz o papel de vigia do canteiro de obras da Transnordestina, em Salgueiro, no Sertão de Pernmbuco (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo) Boneco faz o papel de vigia do canteiro de obras da Transnordestina, em Salgueiro, no Sertão de Pernmbuco (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo)
Boneco faz o papel de vigia do canteiro de obras da Transnordestina, em Salgueiro, no Sertão de Pernmbuco (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo)
Em paralelo, corre o canal que promete levar água do Rio São Francisco a 390 municípios castigados pela seca nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. No ponto de interseção, o canal ainda não foi concretado. O prazo original para a transposição entrar em funcionamento era 2010. O Ministério da Integração Nacional assegura que a obra será concluída este ano.
A Transnordestina, entretanto, tem futuro incerto. No canteiro industrial da obra, o barulho de obra foi substituído por um silêncio que incomoda. Lançada em 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e propalada como a maior do mundo, a fábrica de dormentes – peças de concreto onde são acomodados os trilhos – funciona no local e chegou a produzir 4.800 unidades por dia, com 600 trabalhadores. Hoje, luz apagada, não há ninguém trabalhando.
Pilhas de dormentes, com 366 mil peças fabricadas, o suficiente para 220 quilômetros de trajeto, aguardam a retomada da obra. A gerência de produção industrial garante que os dormentes, mesmo sem uso, não correm risco de degradação, assim como as centenas de trilhos que repousam no parque administrativo. “Eles não estragam. São feitos para durar”, afiança um funcionário sem autorização para conceder entrevista.
No almoxarifado, um retrato contundente de uma obra paralisada: móveis, eletrodomésticos e objetos que ficavam nas casas e apartamentos dos funcionários e que, agora, lotam o galpão silencioso. Ao lado,

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